A ganância está inviabilizando a moradia popular no centro de São Paulo

Nos últimos meses de 2013, ficamos eufóricos pelo acolhimento das propostas dos movimentos populares de disponibilização de moradia popular no centro da cidade pelos do Governos Estadual e Municipal. É uma luta social dos sem tetos de mais de trinta anos.

O Governo Estadual apresentou sua proposta de fazer 21 mil moradias no centro.  E o Municipal apresentou meta de disponibilizar 55 mil moradias para a cidade, mas com prioridade para a área central. Aos poucos, as propostas populares estão sendo esvaziadas e proteladas.

No âmbito estadual, as chamadas Parcerias Público Privadas (PPPs) parecem estar paralisadas. É evidente que o lucro não combina com moradia popular. No Governo Municipal fala-se em um “mix” de classes sociais. Seja, o poder público subsidiar moradia para renda de mais de quatro mil reais para ceder migalhas para as classes de menor renda. Dizem que 75% para quem ganha de 3 a 6 salários-mínimos e 25% para quem ganha até 3 salários mínimos. Um baita contrassenso. Quem ganha até 6 salários mínimos pode acessar o mercado. Os gestores públicos nada entenderam das propostas do movimento social que é:

– ATENDER NA SUA TOTALIDADE AS FAMÍLIAS DE MENOR RENDA COM A DEMANDA QUE LUTOU POR AQUELE EMPREENDIMENTO.

-FORMAR NA NOVA MORADIA UMA COMUNIDADE.

Outra proposta dos movimentos sociais era de fazer – no térreo desses imóveis  – espaços para comércio popular onde seus moradores poderão desenvolver seus negócios no próprio prédio, projeto que já existe nas ocupações atuais.

Hoje, o governo fala em comércio no térreo para vender os espaços no mercado etc. Outro equívoco mastodôntico. Parece que a gestão pública atual não conhece o Brasil. Aqui é a terra do subemprego e do desemprego. Somente 50% da mão de obra ativa tem carteira assinada. Os salários são pagos abaixo do valor da força de trabalho e o desemprego atinge de modo violento as pessoas de menor renda.

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicado (IPEA), em 2010 nas famílias cuja renda per capita era de até R$ 202,00, o índice de desemprego era de 33%. Então a proposta dos movimentos não é burocrática. Ela visa fixar a população com trabalho e moradia perto de casa para, de modo sustentável, gerar renda e garantir a sobrevivência daquela família em sua nova moradia.

A diretriz cega, guiada pela lei de mercado, implodirá nosso grande sonho de ter moradia popular no centro da cidade. O mercado está praticando ganhos abusivos e imorais em termos capitalistas, que em pouco tempo formará uma bolha imobiliária. Imensa quantidade de moradia, mas não teremos pessoas com recursos para pagar. Vejamos o caso da Espanha, China e mesmo em São Paulo que existem 293 mil domicílios vazios.        

O metro quadrado é vendido no Rio de Janeiro por R$ 9.614,00; em São Paulo R$ 7.538,00; em Brasília 8.500,00; em Niterói R$ 6.858,00. Isto em média, porque em determinadas áreas o metro quadrado chega perto de R$12.000,00. Isso é “pura nitroglicerina”, um lucro de mil até 3 mil por cento. A imprensa divulgou que nos últimos cinco anos houve uma valorização dos imóveis no Rio de Janeiro de 205% e em São Paulo de 185%. Essa prática de mercado representa o carro chefe do vandalismo social no momento. Bem, o poder público não pode ser guiado por essa lógica, sob pena de excluir da cidade, ainda mais, seu povo.

O Sindicato da Indústria da Construção Civil (SindusCon) apresentou o novo Custo Unitário Básico de construção de R$1.095,04. Se o custo é esse, como explicar os preços praticados? Repito, esta lógica do mercado não combina com a proposta de moradia popular. E por isto é necessário romper essa diretriz do mercado e trazer os sem tetos organizados para um grande mutirão de adaptação e construção de moradia popular.

Outra dinâmica que está em andamento, combinada com os superlucros praticados no mercado imobiliário, é o valor da terra ou do imóvel abandonado. Imóveis sem função social,  um elefante branco, uma carcaça que já deu renda imensa a seus proprietários, agora querem vender a preço de ouro. Exemplo, o Edifício Prestes Maia.

Na primeira negociação que realizamos com seu proprietário, em 2002, ele pediu R$3.5 milhões, descontando-se a dívida de IPTU, aceitava R$ 2 milhões. Agora, está pedindo quarenta milhões de Reais. Que belo enriquecimento ilícito! Mais de mil por cento em 10 anos. Nenhuma atividade capitalista rende tanto como a desses parasitas. Neste caso, o poder público não deve aceitar essas pretensões.

Desapropriar pelo valor venal, cobrar os impostos atrasados e ainda impor a contribuição de melhorias expressa na Constituição Federal. Romper com a determinação do mercado (lucro),  que impõe imenso sofrimento aos sem-teto.

Frente a esta situação, os movimentos sociais e o poder público devem seguir outra diretriz.

-O poder público deve continuar as desapropriações por valores compatíveis com as necessidades sociais.

– Ampliar as Zonas Especiais de Interesse Social.

-Estabelecer mutirões com as organizações populares para realizar construção nova e as reformas e adequações das carcaças de imóveis desapropriados.

-Seguir a diretriz de atender as famílias de menor renda.

-Adotar metodologia de desenvolvimento dos projetos habitacionais que fortaleçam as famílias e criar comunidades populares no espaço de moradia para que seus moradores continuem enfrentando outros desafios

– Apostar na energia das forças populares para superar a imensa desigualdade social.

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