Vinte centavos: “De grão em grão a galinha enche o papo.”
Vinte centavos a mais no preço da condução significa:
Menos 5 quilos de arroz;
Menos 2 quilos de feijão;
Menos 3 litros de óleo e
menos 5 litros de leite.
Isso para uma família de 4 pessoas que, em média, utiliza 200 viagens ao mês. Falar somente em vinte centavos, isoladamente, é claro que é pouco. Mas, de grão em grão, a galinha enche o papo. O preço da condução é extorsivo em seu todo.
Em 1992, quando o PT deixou a prefeitura de São Paulo, a passagem valia US$ 0,20 (vinte centavos de dólar). Hoje, custa US$ 1,50 (um dólar e cinquenta centavos). A inflação – de acordo com os jornais de 1994 a 2013 – atingiu 332%. A passagem, no mesmo período, subiu 540%, ou seja, quase o dobro da inflação e enquanto isso a qualidade dos transportes públicos desabou e o número de viagens por ónibus também diminuiu. A frota permanece a mesma, desde 2004m por outro lado, o número de passageiros aumentou em mais de 1 milhão e 200 mil de 2004 até 2012.
O sofrimento diário dos usuários de transporte público é indescritível. Em diversos países, os trabalhadores gastam em torno de 5% dos salários com transporte. Já no Brasil, a maioria dos trabalhadores gasta mensalmente mais de 20% do salário com transporte.
Os subsídios do poder público atingem até 70% em outros países. Enquanto no Brasil o investimento não passa de 12% e o peso recai sobre os trabalhadores.
Acompanhando as manifestações pelo Passe Livre, verifiquei que essas pessoas estão cheias de razão. Recordei-me de minha adolescência e do meu cotidiano utilizando transportes públicos e, de fato, não dá para negar que as classes dirigentes da cidade sempre transportaram muito mal os trabalhadores.
Aos 15 anos, eu morava no Parque São Lucas, Zona Leste, e trabalhava em uma fábrica lá no Cambuci – região central de São Paulo. Todo dia, andava cerca de dois quilômetros no sentido contrário para conseguir entrar no ônibus. E às vezes nem isso era capaz de garantir meu embarque no transporte.
Um dia, desesperei-me. Era mais um dia de trabalho e mesmo eu tendo andado dois quilômetros no sentido contrário, não consegui embarcar no ônibus, as portas já estavam tomadas. Logo se aproximou outro ônibus e então me encorajei. Agarrei-me à janela e com o pé no estribo, fui. Mais adiante, uma das pessoas que estava em situação similar à minha, despencou-se do transporte. Nunca soube o que aconteceu com aquele trabalhador, o motorista do ônibus sequer parou. Noutra vez, o transporte público estava tão cheio e eu lá dentro espremido carregava um lanche e uma garrafinha de chá. A garrafa ficou de ponta cabeça, soltou a tampa e o chá molhou toda a minha calça e ao chegar no trabalho, todo molhado, fui motivo de sarro pelos colegas.
Lembro-me também de outro episódio em que um colega, que vinha pela Central do Brasil (Poá, Ferraz de Vasconcelos, etc) chegou no serviço assustado, pois tinha caído entre o trem e a plataforma. Ele disse que a composição passava rente ao seu nariz, mas, felizmente, salvou-se. Era comum as pessoas caírem do trem durante o percurso e, inclusive, muitas não resistiam à queda e morriam.
Para os dias de hoje, os transportes públicos são caros e de péssima qualidade. Eles não transportam as pessoas com dignidade. Deste modo, o Poder Público não deve tratar as manifestações como caso de polícia, na base da repressão. Pelo contrario, deve ria trabalhar junto com as lideranças do movimento para impedir os excessos e a ação de provocadores. No caso da gestão municipal, o melhor caminho é se abrir ao diálogo, constituir espaço de participação popular em todas as subprefeituras e, de modo transparente, buscar um novo modelo de transporte público sustentável.
Rumo à tarifa zero, moradia próxima ao trabalho, serviços descentralizados, são algumas das mudanças necessárias.
Diante disso, se os trabalhadores realizam serviços para a sociedade, então a tarifa deveria ser custeada por todos! Um gari recolhe o lixo, portanto, realiza um serviço social. E assim ocorre também com as cozinheiras, com os pedreiros, com os metalúrgicos, os carpinteiros, os químicos, os professores, os trabalhadores da saúde entre outros. Todos eles realizam trabalho social. Desse modo, as tarifas de transporte podem ser custeadas socialmente. Para isso, recursos não faltam.
Usar os ganhos do pré-sal e outros minérios, não desonerar carros, construção civil, entre outros, são atividades industriais que conferem lucros imensos a seus donos. O poder público deve deixar de subsidiar aqueles que acumulam riquezas e passar a disponibilizar serviços públicos de qualidade, especialmente para os trabalhadores e seus filhos. Por estes e outras dezenas de motivos, todo apoio à LUTA PELA REDUÇÃO DAS TARIFAS DE TRANSPORTE PÚBLICO.