No início do ano, rascunhei uma avaliação interna sobre o andamento da política municipal no início do governo.

As coisas andaram e confirmam as nossas preocupações: na última confraternização do partido para comemorar seus 33 anos, encontrei um Partido dos Trabalhadores triste, sem entusiasmo e muitos resmungos pelos corredores. Especialmente dos candidatos a vereadores não eleitos, que refletiam um sentimento de exilados políticos por não poderem assumir responsabilidades no governo municipal.  Deste modo, dou publicidade a este texto para contribuir na superação dos desafios que estamos enfrentando.

 ARTIGO DE CIRCULAÇÃO INTERNA NO PT (Até o PED 2013)

 Eleição (2012) em São Paulo: Processo Democrático inconcluso

O PT-DM (Partido dos Trabalhadores) da cidade de São Paulo, implantou um grande processo democrático para eleger o prefeito na cidade. Primeiro, a escolha do candidato. Realizou plenárias em 99% dos Diretórios Zonais, onde os cinco pré-candidatos ouviram a militância do partido. As direções zonais expuseram as prioridades das regiões, seu diagnóstico e também ouviram os pré-candidatos. Sem dúvidas, isso fortaleceu enormemente o Partido e sedimentou as bases eleitorais. Concluída essa etapa, com o candidato já escolhido, deu-se início às plenárias para debater e elaborar o programa de governo. Debateu-se e se estudou os principais assuntos relacionados ao enfrentamento dos maiores problemas que os paulistanos vivenciam. Sem delongas e de modo democrático – com participação da base partidária, das bases sociais e intelectuais – o programa de governo estava formulado. De posse desse programa, grande contingente social já estava preparado para a campanha eleitoral.

A campanha eleitoral foi brilhante. A partir dos Diretórios Zonais  do Partido e dos candidatos a vereador do PT, a campanha foi levada em todos os cantos da cidade. Chegou nas favelas, cortiços, nas fábricas, no comércio e em todo canto. Bem, em todos os lugares tínhamos alguém fazendo campanha. Este processo bem arquitetado, entre outros fatores, viabilizou a vitória eleitoral do PT em São Paulo.

Formação do Governo

Terminada a eleição, havia uma expectativa de que o processo democrático em andamento continuasse. Mas, isso não ocorreu. Interrompeu-se a democracia partidária em andamento. Transpareceu a concepção de que a vitória eleitoral foi resultado da excelência de uma ou algumas pessoas e não coletiva do PT e das forças sociais organizadas.

Diante disso, a escolha de gestores de secretarias e subprefeituras foi inconcebível para as forças sociais e bases partidárias vitoriosas na eleição. Um rumo cheio de noções confusas e falsos raciocínios, apresentando incompreensão do papel desempenhado pela base partidária no período eleitoral. Desprezou-se a empatia que havia sido construída com a militância na etapa anterior e quase nenhuma opinião foi respeitada e nenhuma consulta foi realizada nas instâncias do partido e nas bases sociais para a formação do novo governo municipal.

Primeiro, disseram que precisaria ser técnico. O que é uma grande bobagem. A ditadura militar governou 21 (longos anos) com técnicos como Sergio Naia (engenheiro e ex-deputado), entre tantos outros que jogaram os trabalhadores numa miséria profunda. Em suma, essa formulação vai na contramão de toda luta do PT e do próprio Lula, figura reconhecida mundialmente por seu exemplar  papel no exercício na Presidência.

A propósito, vale a pena ver e ler o poema Operário em Construção que Lula em 1979 pediu que Vinicius de Moraes lesse no 1° de Maio, para afugentar esse argumento de “classe” dos que sempre mandaram e desmandaram nos trabalhadores. Essa concepção de mundo está embasada no Fordismo/Taylorismo que separa a concepção da execução do trabalho. Separa o trabalho intelectual do trabalho manual. Sabemos perfeitamente o infortúnio que esse modelo de gestão produz nos trabalhadores.

As aberrações continuaram. Falavam que havia um comitê que avaliava isso ou aquilo – para validar quem participa ou não do governo. Mas as bases vitoriosas da eleição ficavam de fora. Nada podiam opinar.

Este caminho está sangrando o PT, mais que o mensalão. Pois sabemos que essa é uma armação das forças conservadoras para atacar o PT. Trouxeram para a gestão pública pessoas que assim que o PT, em 2004, deixou o governo, desapareceram,  não participaram de reuniões partidárias, não votaram nos PED’s, não moveram uma palha contra a gestão dos últimos oito anos da prefeitura, não os encontramos na campanha eleitoral. Além disso, havia também filiados que não estavam em dia com as finanças do partido. Como esses exemplos, encontramos dezenas de pessoas assumindo posição estratégica na gestão e sequer tangenciaram nossas bandeiras de luta. Na gestão de subprefeituras e secretarias, esses, embora técnicos e/ou concursados/comissionados, não são neutros. Muitos trabalharam nas eleições para nossos adversários. Muitos são fisiológicos, sem convicções próprias, entram em qualquer lado que puder. Confere imenso espaço para forças políticas que foram adversárias no primeiro turno. Isso sangra as bases partidárias e pode provocar um processo perigoso de afastamento da militância do PT e bases sociais do compromisso com a gestão municipal.  E pode deixar nosso Governo Municipal fragilizado frente a possíveis ataques das forças conservadoras. Ainda há tempo para corrigir esse rumo equivocado. Vale reler O Príncipe, de Maquiavel: “tem mais a temer das elites conspiradoras do que das massas, por isso deve tentar formar uma aliança com o povo contra a aristocracia…” Ganhar eleição e manter a mesma metodologia de gestão dos adversários não é nada inteligente. É preciso avançar nas relações com as forças populares.

Uma grande oportunidade

Uma boa gestão em São Paulo impacta em todo o Brasil. Por isso é necessário que as forças eleitorais vitoriosas e comprometidas com nosso programa de governo, estejam na gestão do projeto. Não se trata de colocar as bases sociais e partidárias dentro do governo, tão pouco oferecer empregos para bases descontentes. Trata-se de participação no rumo da gestão. Poder influir, cobrar e defender nossa gestão quando necessário. Não se trata também de colocar algumas figuras do partido na gestão e pronto. Trata-se de buscar na gestão das políticas públicas os melhores quadros dentro do partido, respaldados pelas bases partidárias e sociais.

É preciso aproveitar essa experiência para realizar, de forma pedagógica, o exercício de governar. Manter a empatia, estreitar laços entre a militância, as bases partidárias e eleitorais. Abrir espaços para parcerias e gestões com participação das comunidades populares organizadas.

O projeto dos trabalhadores implica mudanças nas bases econômicas, na eliminação da desigualdade social, etc. Mas, para isso, os trabalhadores precisam treinar suas habilidades de gestor e controle das políticas públicas. A gestão do município é uma grande oportunidade para os trabalhadores.

Sem preconceito de classe, juntos e misturados, seguimos em frente.

O partido é concebido como instrumento de disputa de poder. Sendo assim, os quadros partidários não podem ficar fora da gestão da fração do poder público conquistada. Em seus 33 anos de existência, o PT governou a cidade de São Paulo por oito anos – nos governos Luiza e Marta. Acumulou a experiência por meio do “modo petista” de governar. Treinou e capacitou quadros partidários no exercício da gestão pública. Agora, o PT tem plenas condições de realizar um bom governo e, mais que isso, na próxima eleição renovar o mandato.

De toda forma, daqui a quatro anos, quando o governo se dirigir às bases sociais e partidárias poderá se surpreender, não encontrando mais a quem se dirigir. Parafraseando o personagem Chaves, diremos: e agora, quem poderá nos defender? O Chapolim Colorado!?

 E aí… talvez, seja tarde demais.

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