EXPLORAÇÃO MINERAL NO BRASIL: “A Máquina de Acabar com Tudo”

 O rompimento da barragem de lama tóxica em Minas Gerais  é devastador e revelador ao mesmo tempo. Essas barragens apreendem quantidades imensas de rejeitos da mineração. São compostos de água, lama e venenos do mineral. Ficam ali aprisionados e depois devastam extensas áreas locais. O rompimento de uma dessas barragens é desastroso: a lama tóxica percorre mais de 500 quilômetros no Rio Doce e atingirá centenas de quilômetros de praias do estado do Espírito Santo. Já destruiu parte da cidade de Mariana (MG), vidas humanas, animais e matou completamente o Rio Doce. A lama impregnada nas margens – em toda extensão do rio – toda vez que chover continuará contaminando o rio e o mar por vários anos. É uma monstruosidade.

 Notícias revelam que tem uma terceira barragem, maior ainda, trincando para se romper. E que também existem mais de 400 desses depósitos tóxicos no estado de  Minas Gerais.

 A exploração mineral no Brasil é uma inconsequência nacional sem precedentes. É de arrepiar o que essa atividade faz no estado do Pará, em cidades como Carajás, Parauapebas e no estado do Amapá, na cidade de Serra do Navio. São parte do território brasileiro (em formato de minério) transferidos para as indústrias globais. No caso dos minérios, 70% serve para produzir armas de destruição e bens de luxo desnecessários para a humanidade. Destroem a Mãe Terra no processo produtivo e seus produtos à vida na face da terra.

 A insanidade não para. Acabou de ser construído um Mineroduto com 525 quilômetros. Vai de Alvorada de Minas ao Porto de Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro —patrocinado pela empresa Anglo Americana. Mas a Samarco, essa das barragens rompidas, também tem seus Minerodutos.

O Mineroduto funciona assim: faz-se a sucção de água do rio. O minério é transformado em lama e bombeado até o porto. O processo destruirá o meio ambiente nas duas pontas, na montanha de onde sai o produto e no porto onde ocorre a separação da água dos minérios. Curiosamente e desastrosamente, a Anglo Americana destaca a importância do sistema, em termos ambientais, por substituir caminhões e trens. Que bela importância! Onde será depositada a água envenenada do mineroduto? Nas praias, com certeza! Bombeará milhões de metros cúbicos de água direto para o mar. Isso provoca uma crise histórica. Não fiquemos nervosos, continuemos nosso relato.

 A exploração mineral no Brasil está sintetizada na declaração da liderança indígena Katia Tonkure Jonpti, do povo Gavião: “A Vale deixou conflito. A Vale trouxe o impacto de separação, desunião e desigualdade. É um bicho papão. Um demolidor da natureza. MÁQUINA DE ACABAR COM TUDO.”

 As indústrias mineradoras se constituem num grupo econômico poderoso. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), das 20 mil concessões de exploração de minérios apenas 5 mil recolhem impostos. A maioria são criminosos sonegadores.

Exploração Econômica Devastadora

A devastação ambiental do território brasileiro pela mineração se completa com a monocultura agrícola. A secular exploração da cana devasta imensos territórios. Depois de um tempo de produção, por anos, a terra nada produz. As usinas industriais de cana consomem a água da região e polui os rios. O café cultivado pelos métodos “modernos”, servindo-se de pesticidas mata tudo. Na última geada que destruiu o café, os agricultores não conseguiram desenvolver outras culturas como arroz, feijão, porque  os grãos não prosperavam na terra contaminada. A exploração extensiva do gado também acaba com as florestas. A celulose – plantação de eucaliptos – são mais de cinco milhões de hectares, consome a água da região e destrói a diversidade florestal e animal. E ainda tem a plantação de laranja e a soja para completar esse quadro.

 Essas monoculturas turvam de cinza a paisagem rural. Destroem as fontes de água. Eliminam a diversidade vegetal e animal, contraditório necessário para o desenvolvimento da vida. Matam os pássaros, os peixes, as abelhas e a abundância da vida nesses territórios. A devastação ambiental segue de norte a sul, de leste a oeste. Assim como a Mata Atlântica fora destruída, caminha-se a passos largos para destruir a Amazônia e as regiões de cerrado. Esta forma de exploração da agricultura e da mineração despeja milhões de toneladas de veneno no ambiente todos os dias.

 Casta Social e Patriciado no Brasil

 A casta social que ocupou o Brasil é a mesma desde o seu descobrimento. Rapelam e saqueiam tudo: é o capitalismo extrativista da acumulação primitiva – acumulação por exploração e violência. Acabaram com o pau-brasil, limparam o ouro, a prata e  os diamantes e continuam arrancando a madeira de nosso solo. Caçaram os índios nas florestas, laçaram os negros na África e os escravizaram. E esta concepção de mundo perdura até hoje.

 A casta dominante defendida pelo patriciado, como afirma Darcy Ribeiro, essa tropa de choque encastelada na máquina pública, maioria no Executivo, Legislativo, Judiciário, forças de segurança, na mídia predominante e em todos os poros da sociedade, asseguram o andamento dessa base econômica podre, devastadora da natureza e de vidas humanas. Combinam as formas modernas de exploração dos trabalhadores com o modo primitivo de acumulação. Destroem os meios de sobrevivência autônoma dos trabalhadores, colocando-os à disposição de suas necessidades de mão de obra, sem pagar o que precisam para viver. E para submetê-los a salários miseráveis, mantêm um grande contingente de desempregados e subempregados. Espalham a miséria social em todos os cantos da sociedade. Para essa casta dominante e seu patriciado, a função social das atividades econômicas não conta, a vida humana não conta, a natureza e sua diversidade animal e vegetal não contam. O que manda é o lucro e mais lucro para garantir sua vida de luxo e imbecilidade.

 Por mais grave que seja o crime cometido por essa casta dominante, nada acontece para eles. Sejam os crimes ambientais -como esse do rompimento da barragem e agrotóxicos jogados nas terras, sejam crimes de sonegação fiscal – como o débito com o fisco em R$ 1.000.000.000.000,00 (um trilhão de reais) que segundo a receita federal representa R$ 500 bilhões por ano, seja a remessa de dinheiro (trabalho brasileiro) ilegal para o exterior, sejam os péssimos salários e condições de trabalho impostos aos trabalhadores. Nada ocorre para eles. O império da lei e da justiça não vigora.

Essa casta dominante articulada e subserviente às empresas capitalistas globais é garantida por sua tropa de choque: o patriciado continua impune destruindo as condições ambientais do Brasil e reservando péssimas condições de vida a seu povo.            

A concepção de mundo dessa casta dominante é de arrepiar. Hoje mesmo, o jornal noticia que empresas do nordeste mudam-se para o Peru e do sul para o Paraguai, apregoando que lá não tem legislação trabalhista. Ou seja, levaram miséria para nossos irmãos aqueles países.

 Vale novamente citar Darcy Ribeiro no último capítulo de seu livro “O Povo Brasileiro”: “Os interesses e as aspirações do seu povo jamais foram levados em conta (…) Nem mesmo o direito elementar de trabalhar para nutrir-se, vestir-se e morar.”

 No andar da carruagem atual, a casta dominante e seu patriciado aprofundam o catastrófico desenvolvimento econômico brasileiro com destruição sistemática da Mãe Terra e das condições de vida de seu povo. Está colocado para as forças progressistas em geral, e especialmente para os trabalhadores, a necessidade de construir organizações autônomas, tomar as rédeas do desenvolvimento econômico e social em suas mãos. Seguir na direção do que o Papa Francisco, este homem iluminado, apregoa: “colocar a economia a serviço do povo e cuidar da mãe terra…”.

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