O CARNAVAL NÃO É BRINCADEIRA

Este ano acompanhei o carnaval bem de perto e por dentro. Observei as pessoas no evento. No sambódromo de São Paulo vi a apresentação de várias escolas. Os imensos carros alegóricos. A evolução das alas disciplinadamente, resultado de trabalho de organização e treinamento invejável. Para entrar na avenida milhares de pessoas dedicaram bom tempo de suas vidas. E seguiam dançando com alegria no corpo. Mulheres quase nuas observadas, admiradas, respeitadas e não encontrei olhares concupiscentes. Todos seguiam confiantes no sucesso do grupo.

No sábado 14/02/15 tive a honra de desfilar na Gaviões da Fiel, levado por amigas da Escola. É indescritível os sentimentos humanos dentro do grupo, uma solidariedade imensa entre os integrantes — parece que um pertence ao outro. A dedicação daqueles que confeccionaram as fantasias. Cuidavam e ajudavam os figurantes a acomodar apropriadamente sua indumentária. O espírito do Corinthians está dentro da escola.  A emoção, o sentimento de unidade e a confiança, dominam o ambiente. Somos Gaviões, somos Corinthians e não vamos afrouxar nunca.  Creio que essa empatia entre os participantes e a escola ocorre em todas as agremiações. Cada uma com sua história e característica. Participei também do Bloco dos Sem-Teto, que percorreu o centro da cidade. Carregavam sua bandeira de luta: a moradia. Apresentaram ainda as contradições do judiciário e a falta de água. O bloco seguiu pelas ruas de modo descontraído. Hora na frente do carro de som, hora atrás.  Foi uma imperfeição perfeita. 

Observei outros blocos desfilando pelas ruas e li nos jornais a movimentação do carnaval no país. A predominância dos festejos não se envolveu com os contrastes de nossa sociedade. O sentido é de se divertir e se alegrar. Lembrei-me do que Darcy Ribeiro fala sobre a alegria do povo brasileiro. E o mundo inteiro tem essa observação. Outros, as classes dominantes, distorcem este comportamento. Dizem que os brasileiros não gostam de trabalhar e tantas outras monstruosidades.

Analisando a formação histórica da sociedade brasileira verificamos que o povo foi excluído de tudo: da economia, da política e do resultado de seu trabalho. Não tem vez nem voz em seu próprio destino. Não pode influir sobre o que e como produzir, como distribuir os bens resultado do seu trabalho, como corrigir distorções. O povo não trabalha para si, mas desde o Brasil colônia gasta suas vidas, sustentando e enriquecendo um punhado de proprietários e subalternos (patriciado). Então, vejo nessas manifestações culturais, música, carnaval, futebol e tantos outros eventos, como o povo dizendo para os dominantes: já que estou excluído de tudo, o trabalho oferecido não dá satisfação, e o salário não cobre as necessidades de minha sobrevivência, toque seus negócios espúrios, que eu vou me divertir. Por que não podemos todos ser felizes?

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