UMA NOVA VIRADA CULTURAL PARA SÃO PAULO

Encontrei por esses dias, no centro da cidade, além do lixo e pessoas em situação de rua, algumas situações que chamam atenção. Pessoas expondo livros, outros trocando “bolachões” (discos de vinil), duplas caipira cantando nas praças, guitarrista dedilhando rock etc.

Isto me fez atentar para a chamada Virada Cultural (conjunto de shows em diversos pontos da cidade), que atrai milhões de pessoas. Na última, andei no meio do “redemoinho”, entre os pontos dos eventos, até aquietar-me no bar. Observei as pessoas e suas expressões. Muitos andando de um lado pro outro, sempre em grupos e com alegria. Percebi que o povo tem fome de cultura e de entretenimento. Vida social que a cidade tem eliminado.

Aqui no centro os moradores chamam a Virada Cultural de “Mijada Cultural”, vez que as ruas ficam impregnadas de dejetos humanos. Outros a chamam de andada cultural, as pessoas ficam andando de um lado pro outro sem destino certo. Diga-se o que quiser, mas a Virada Cultural indica que a cidade precisa de espaços públicos, para atividades de cunho coletivo e social, em que se expresse artisticamente os conhecimentos e sentimentos humanos de cada realidade social, de modo livre e o mais diversificado possível.

Baseado no que vejo hoje e na minha experiência de editor do Jornalivro, da organização de bibliotecas populares nas comunidades, de realizar atividades com cineclubes nas periferias, e criar roda de samba regada a caipirinha no tempo da juventude, como forma de resistir ao massacre cultural da ditadura militar-americana, desenvolvi a seguinte proposta para este novo tempo:

Foto: Lee de Paula

O poder público deve facilitar e estimular as expressões artísticas e de difusão da cultura e conhecimentos humanos em toda cidade. Pode ser organizado pela subprefeitura, sem necessidade de grandes deslocamentos e a baixo custo, sempre de forma contínua. De modo resumido:

1. Destacar ruas ou praças para, no fim de semana, servirem a eventos culturais de modo permanente.

Ex: uma rua para doação ou troca de livros; e aqueles que desejarem doar ou trocar livros vão para esses lugares — nas regiões norte, sul, leste, oeste, o mais amplo possível.

2. Locais para a troca ou doação de discos de vinil, cd’s etc.

3. Rua ou praça, destinada a música caipira, forró, rock, frevo, samba, hip-hop, música clássica etc.

4. Divulgar os diversos pontos de saraus que já existem na cidade.

5. Difundir pontos em toda cidade, para exposições de pintura e diversas realizações artísticas das forças populares.

6. Em tempo, aproveitar os cinemas fechados e transformá-los em museus-casa de cultura: do índio; da história dos negros no Brasil; dos operários; dos sem-teto; de todas as nacionalidades que povoaram o Brasil.

Esses eventos realizados de modo permanente podem desenvolver o costume de quem deseja ouvir música vai para tal lugar, pintura para outro, sarau, trocar livros, discos, capoeira, coral etc.

O escrito acima é apenas um esboço de uma proposta de Nova Virada Cultural para a cidade. Isso deve ser debatido e aprofundado. Sinto que a cidade tem fome de cultura e o papel do Poder Público é de criar condições para libertação das forças culturais populares, para de modo livre, expressarem seus conhecimentos, sentimentos e costumes humanos. Isso serve para aproximar as pessoas, a comunidade e trazer para a superfície aspectos humanizantes que estão sufocados pelas relações sociais impostas pelo capitalismo.

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